Revista Veja edição 2266 ano 45 nº 17,
25 de abril de 2012
A falta que um Francis faz divulga o livro Diário da Corte.
Senti saudades, de fato, do humor ácido de Paulo Francis, das suas verdades
beligerantes, muito mais por identificação do que qualquer outra coisa. Os
exageros do colunista remetem ao próprio Francis e tudo que lhe diga respeito.
A "exumação parcial de sua obra escrita" será com certeza uma grande
contribuição ao jornalismo moderno, embora ainda ache que os jovens acadêmicos
e futuros jornalistas passariam muito bem sem ele. No entanto, considerando-se
a quantidade de lixo produzida pelo jornalismo atual...
Os
"quinze anos de esquecimento" a que são condenadas as figuras
brilhantes são o reflexo de mecanismos de defesa desenvolvidos pelos brasileiros.
Categorizar tamanho brilhantismo soa ridículo num país de corruptos, ladrões e
criminosos da elite, fincados no topo da pirâmide social à custa de extorsão da
coisa pública ou exploração de miseráveis. Confortavelmente instalados em
palácios blindados, não se intimidam,
não se sentem constrangidos; continuam buscando o reconhecimento e o
brilhantismo, pregando o conservadorismo e a tradição.
Que
país é esse? O país que, no ranking dos emergentes e em pleno desenvolvimento,
cria bolsões de miséria para exibição e deleite dos grandes senhores do
capital. Elegantes em seus colarinhos brancos, protegidos em suas "Torres
de Marfim" alcunham termos sofisticados e criam categorias no contexto da socialdemocracia,
defensores da distribuição de renda, da redução da pobreza e da desigualdade social na
busca de uma sociedade mais justa. Justa para quem?
Paulo
Francis era uma "biblioteca ambulante" que leu Guerra e Paz aos 15
anos. Eu também li, e daí? Muitos membros da elite intelectual se gabam de ter
lido Ulisses na adolescência. Mas eu também li, muita gente boa leu; e daí? Qual a contribuição desses indivíduos
notáveis para a humanidade? Sequer explicaram ou convenceram sobre a
importância de ler essas obras/autores em tão tenra idade. Será que entenderam
o que leram?
De
repente, a mesma revista coloca quase lado a lado Paulo Francis e Luiz Felipe Pondé: um
jornalista e um filósofo, ambos inteligentíssimos, antipáticos e arrogantes.
Sensação incômoda, inevitavelmente desconfortável provocada pela leitura da
revista, depois da abertura com a nauseante
senhora idosa rica, Lya Luft, envolvida por uma nostalgia que causa repulsa, extravasando
sua indignação com o bombardeio midiático pouco salutar no Brasil. À boa senhora basta não ler os jornais
matutinos e evitar os noticiários da TV para higienizar suas manhãs. Sorte a
dela.
Fechei
a revista com uma certeza: para higienizar minha entrada na terceira idade será
vital deixar de ler Revista Veja. Quase a mesma conclusão a que chegou J. R.
Guzzo sobre as desventuras de brasileiros em viagem aos Estados Unidos. "É
só não ir".
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