Hoje eu queria ter um lugar para ir
Um ninho.
Uma roda de intelectuais ou
de mendigos.
Queria poder chorar toda essa dor,
a impotência.
Depois rir e tomar um cálice de aguardente.
Foi apenas a prova de Inglês e eu não fui bem.
Hoje eu queria um lugar para ir
para chorar de fome e frio
dividir sopa e pão com mendigos,
a rua.
Tomar vinho doce e pobre, comer queijo velho
com velhos ratos,
Tomar vinho nobre e comer queijos raros,
ratos novos, mesa farta.
Gente farta, hipócrita gente.
Gente que cansa em reuniões que estafam.
Eu só queria ter um lugar para ir
Queria conseguir vomitar o que já
engoli do leão que matei hoje,
porque hoje, ainda hoje, falta muito por engolir.
Eu queria um lugar para ir
Prá secar esta lágrima
Dizer desta dor, desta raiva
Comer os dentes do leão que matei hoje.
Mas, hoje, ao que parece, resta-me reler
Fernando Pessoa e seu Poema em Linha Reta,
que prá prá onde ir não tenho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário