Esse espaço
- o blog - me dá
prerrogativas que eu não teria não fosse o avanço tecnológico, tantas as
mudanças pelas quais o mundo passou desde o advento da máquina a
vapor. Hoje acordei pensando no quanto a elite gostaria de riscar da história, algumas etapas desse avanço tecnológico. É que, inevitavelmente, a tecnologia expõe o que eles têm
de pior: o egoísmo. São obrigados a admitir que comem o que existe de melhor,
enquanto 90% da humanidade passa fome, são obrigados a admitir que destroem a
natureza - entenda-se aqui o Planeta inteiro - para satisfazerem seus
caprichos, enquanto esses 90% de miseráveis, de sub-humanos estão tendo aulas
de reciclagem, estão tendo a oportunidade de se educarem para um mundo melhor,
para o crescimento sustentável, para exercerem a cidadania verde, serem
ecologicamente responsáveis, ou seja, comerem o resto dos 10% ricos, viverem do
lixo dos que exploram o capital e sem fartam da destruição do planeta. Isso é
Rio+20, isto é Educação Ambiental, é parar agora nas Escolas Brasileiras e
mundiais de Economia e ensinar os pobres a fazer as contas com o que se gastou
com o mais badalado evento dos últimos tempos, em prol de um mundo melhor para
nossos filhos e netos. Sejamos otimistas, como disse Miriam Leitão na Coluna do
Jornal O Popular deste domingo.
Sejamos
justos, concordo com ela, pois, desarmada, venho aprendendo muito com sua
literatura nos últimos tempos, vários cientistas já haviam cimentado esse
caminhado ao longo desses últimos vinte anos. Na verdade, talvez tivessem
podido economizar um bocado de milhões de dólares jogados no ralo na Rio+20.
Mas, sobre o texto dela, a crítica que quero fazer, a despeito das suas viagens
pelo Mato Grosso, pelo Amazonas e outros Estados, é que, embora ela tenha
constatado uma série de boas práticas e outras tantas agressões ao meio
ambiente, hoje ela deixou de lado algo fatalmente muito relevante quando se
trata do foco da Rio+20: o fator humano.
E é apenas
por isto que, no mesmo Jornal O Popular, acabei traçando um paralelo
quando li Memória de Manuel Bandeira, um texto do psicanalista Roberto Mello
que aborda com tamanha sabedoria os exageros, as apologias e a falácia em torno
da salvação do planeta e da natureza enquanto esquecem os humanos famintos
caídos à beira dos abismos, das valas e dos esgotos das cidades grandes, onde
os mesmos jornalistas, cientistas e celebridades se atropelam, se afastam ou se
acercam de batalhões de homens armados para não caírem sobre os
"sujos-pedintes-prostitutas-drogados-bêbados-famintos-violentos-morimbundos"
ou não se tornarem suas presas. A beleza e a arte construída e emoldurada em
torno da Rio+20 ignora a realidade de que é construída o mundo real, ignora as
ruas por onde circulam os carros blindados que guardam as celebridades que
cuidam das grandes conferências. E é por isso que eu gostaria de convidar Miriam
Leitão e tantos outros a uma releitura do poema de Manuel Bandeira que,
coincidentemente, sempre trabalhei com meus alunos, sempre utilizei em
dinâmicas de grupo, sempre reli em momentos de necessária reflexão sobre "pensar
no/com o outro. Trata-se do poema O Bicho, que conforme muito
bem colocou o psicanalista Roberto de Mello, Manuel Bandeira "publicou em
1947 contra esse papo furado de reciclagem -sustentabilidade-economia verde:
O
Bicho
"Vi
ontem um bicho
Na
imundície do pátio
Catando
comida entre os detritos.
Quando
encontrava alguma coisa,
Não
examinava nem cheirava:
Engolia
com voracidade.
O
bicho não era um cão,
Não
era um gato,
Não
era um rato.
O
bicho, meu Deus, era um homem."
O que hoje
estou sentindo é que, de fato, tudo parece intangível. As crianças que
compareceram à Rio+20, de longe representam as crianças que precisam de
atenção, de oportunidades iguais de educação, alimentação e esporte. Muito
exibicionismo, muito desfile de moda, muita celebridade, muito jogo de poder e,
com certeza, a próxima semana volta com o sabor amargo da CPMI do Carlinhos
Cachoeira agora mais adocicado, porque propositadamente mais atenuado pelo
espetáculo da Rio+20 que deixa a miséria e a pobreza num compasso de mais 20
anos de espera para assistir a mais um espetáculo.
Profa. Ma. Luciana de Castro
Magalhães.
www.vermelhoecinzamulticultura.blogspot.com.br
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