Receitas de remédios, hoje,
quando encontradas na bolsa servem como papel-rascunho, substituem bloco de
anotações; virou rotina.
A tal bolsa está sempre
abarrotada e insisto em encontrar uma que se organize sozinha; nunca encontro
nada que preciso.
Está chovendo de novo, isto se
tornou comum nos finais de tarde por aqui; as águas lavam as ruas podres e
fétidas da imundície infinda produzida pelo ser humano e pelos
não-humanos. À medida que se arrasta o
lixo os restos se dirigem aos ribeirões aqui por perto e a fetidão tomará conta
de tudo ao redor quando, amanhã, o sol escaldante pousar seu calor
sobre a terra umedecida ainda de cara lavada ou, como quiserem, de asfalto levado,
que aqui é a cidade grande.
As brechas-frestas-fendas dos ribeirões, córregos de esgoto em
“tratamento” cortam a cidade traçando uma chaga que não permite a ricos e
pobres esquecer que se apodrece do mesmo jeito e em qualquer classe social, ou
como prefere Bourdieur , em qualquer
“espaço social”. Logo ali, onde as autoridades instalaram uma simpática praça
de lazer, o odor exala das entranhas do córrego invadido. E a chuva, agora
acompanhada de ventos uivantes, cai com uma intensidade enervante. Como
será/seria viver num lugar onde chove a
cântaros o dia inteiro? Os ossos doeriam? Ver-se-Iam borboletas sob algum raio
fulgente de sol? Haveria sol?
Aqui continua chovendo e continuo
esperando, há quase uma hora, para falar com um professor que ensina teatro.
Isso é ensinável? Faria algum sentido? Afinal, o que estou mesmo fazendo aqui?
Esperando a chuva passar ou esperando o professor de teatro?
Luciana de Castro Magalhães
Março/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário