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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CHUVA, ESGOTO E TEATRO



Receitas de remédios, hoje, quando encontradas na bolsa servem como papel-rascunho, substituem bloco de anotações; virou rotina.
A tal bolsa está sempre abarrotada e insisto em encontrar uma que se organize sozinha; nunca encontro nada que preciso.
Está chovendo de novo, isto se tornou comum nos finais de tarde por aqui; as águas lavam as ruas podres e fétidas da imundície infinda produzida pelo ser humano e pelos não-humanos.  À medida que se arrasta o lixo os restos se dirigem aos ribeirões aqui por perto e a fetidão tomará conta de tudo ao redor  quando,  amanhã, o sol escaldante pousar seu calor sobre a terra umedecida ainda de cara lavada ou, como quiserem, de asfalto levado, que aqui é a cidade grande.
As brechas-frestas-fendas dos ribeirões, córregos de esgoto em “tratamento” cortam a cidade traçando uma chaga que não permite a ricos e pobres esquecer que se apodrece do mesmo jeito e em qualquer classe social, ou como prefere Bourdieur , em qualquer “espaço social”. Logo ali, onde as autoridades instalaram uma simpática praça de lazer, o odor exala das entranhas do córrego invadido. E a chuva, agora acompanhada de ventos uivantes, cai com uma intensidade enervante. Como será/seria viver  num lugar onde chove a cântaros o dia inteiro? Os ossos doeriam? Ver-se-Iam borboletas sob algum raio fulgente de sol? Haveria sol?
Aqui continua chovendo e continuo esperando, há quase uma hora, para falar com um professor que ensina teatro. Isso é ensinável? Faria algum sentido? Afinal, o que estou mesmo fazendo aqui? Esperando a chuva passar ou esperando o professor de teatro?


Luciana de Castro Magalhães
Março/2012

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