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terça-feira, 29 de março de 2016

SOBRE O LUTO E OUTRAS DORES

Um momento de extrema dor é aquele em que se pare o filho humano gestado em nove meses. Defende-se ser a maior dor no universo das dores. Outras tantas argumentações, algumas bem pouco poéticas, dão conta da relevância da maternidade.
A dor, no entanto, do filho cuja vida é retirada antes da mãe, incontestavelmente é uma dor que não se descreve. Tento passear agora pelos caminhos de cujas mães os filhotes foram arrancados. Não quero fazer esse percurso.
Mas, existem tantos outros lutos em relação aos nossos filhos, existem tantas formas de perdê-los, que muitas vezes, a dor é de uma dimensão tal  que se materializa indelével. Há que se considerar que a morte física não daria conta de traduzir essas dores. É como acordar e levantar todos os dias para um velório eterno. Desse luto o tempo não facilita a administração, essa solidão não tem nenhum antídoto, a sensação de abandono e desencanto não pode ser amenizada pelas pílulas mágicas das também miraculosas soluções que nos são apresentadas.
A luta constante é pela busca de uma explicação que não existe, ou que, mesmo existindo, não alcançaria o peito rasgado, o coração sangrando. Arrancar a uma mãe um filho não tem equivalência nesse caminhar arrastado de uma existência sem objetivos, sem metas, sem sentido algum. A caminhada revela apenas o dever ético da preservação da vida, revela os medos, mas nunca uma razão que justifique estar onde todos estão.
A alegria do entorno é enfadonha, muitas vezes dolorosa, incômoda. O esforço para manter-se no controle da vida é algo desumano. O grito silencioso de desespero enseja apenas o dirito de perder o medo, de cessar o fluxo da ausência de sentido para  prosseguir.

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