Agendei um encontro na Secretaria de Educação para tratar de um assunto relacionado à Educação. Acho que não prestaram muita atenção, pois ao que me pareceu, agendaram meu encontro com uma pessoa errada, numa hora errada: um momento de confraternização (festa junina) e o pior, a documentação protocolada há três semanas, que deveria ter chegado até a pessoa antes disso, parece ter desaparecido. O ambiente era de festa: tudo muito lindo, colorido, guloseimas circulando de um lado para o outro, funcionários se abraçando naquele clima de véspera de feriado. Enfim, cheguei na hora errada.
Havia agendado hora com três semanas de antecedência com um padre cuja função é diretoria pedagógica e fui recebida por ele com uma frieza e uma indiferença que fizeram com que eu me sentisse funcionária de uma fábrica de concreto. Pois é, isto foi ontem. Na linha das compensações, considerando o trânsito das energias do universo, fui presenteada com uma longa conversa com uma pessoa linda cujo exemplo todas as pessoas que lidam com educação deveriam seguir.
No mesmo evento, ainda no meio desta conversa agradável, uma moça simpática, cujo rebento devia estar, dentro do seu ventre, reclamando sua vinda a este mundo, exigindo liberdade; ofereceu-me uma canjica, um arroz-doce, quitutes da quermesse. Para não ser indelicada, ou melhor, vulnerável e sem condições de vencer os demônios da minha compulsão alimentar, apanhei os dois frasquinhos – estavam devidamente fechados – e enfiei-os dentro da bolsa. Encerrado todo esse emaranhado, essa trama que me deixou fragilizada e em lágrimas, abri a bolsa um tempo depois e constatei que havia uma gosma cheia de grãos que se grudara em todos os meus objetos pessoais: não eram celulares, eram simulações de obras de artistas loucos, não eram carteiras nem necesséries, eram peças desenhadas por artistas exóticos decoradas com apetrechos esquisitos, grudentos. Meus óculos se transformaram em esculturas barrocas e, o meu desespero, ah, o meu desespero!! Cinqüenta alunos me aguardavam em sala para fechamento de semestre, entrega de notas, coisas do gênero. Logo após eu teria uma reunião.
O dia foi longo. Cheguei em casa, sentei-me no chão e fui separando os objetos gosmentos. Joguei algumas peças no tanque, outras sobre a mesa, e tudo isso enquanto chorava. Isso. Eu não consegui me conter, não consegui evitar o questionamento: Por que todos os dias me acontece algo assim? Por que atraio tanta energia ruim, porque estar submetida à Lei de Murhp vinte e cinco horas por dia? Eu não sei; a bolsa está no varal e as miudezas sobre a mesa em fase de secagem: verei o que será possível aproveitar.
De tudo isso levanto mais uma questão no rol de tantas interrogações: como é possível buscar melhorias, tentar alavancar os índices brasileiros da educação no cenário internacional se não conseguimos, entre educadores, agir com “amorosidade” (Brandão, 2006), ser tolerantes e, ao menos por alguns instantes, entregarmo-nos à escuta, à angústia do outro, envolvermo-nos pelo conceito de “alteridade”????? É com essa sensação de “Patinho Realmente Feio” (Jon Scieszka & Lane Smith) que eu vou me debruçar sobre o excesso de trabalho de todo educador nesse sagrado ferido de corpus Christi.
Goiânia, 23 de junho de 2011.
Luciana de Castro Magalhães.
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